21 de mai. de 2014

o meu enrolar do cabelo



eu acho que nasci assim. uma das primeiras memórias que tenho como ser humano é, com uns 4 anos de idade, ter os cabelos raspados. todos, de uma vez só. eu odiava ir ao salão e não ficava quieto por nada. o cabelo é meu, porque é que tem que cortar? um dia, sem mais e nem menos, minha mãe resolveu raspar. e eu me lembro exatamente da sensação triste que me consumiu: eu pensei sozinho “como vou dormir sem enrolar a minha franja?”. indaguei minha avó, que deu uma bela bronca em minha mãe. “você sabe que ele só dorme enrolando a franja”, disse. tive que acostumar. 

anos se passaram e o costume parece não me largar. na adolescência, com cabelos mais curtos, não tinha muito o que enrolar. eis que na fase adulta, decidi deixar a franja voltar. passo horas. acordo enrolando os cabelos, vou trabalhar enrolando os cabelos, trabalho enrolando os cabelos e só consigo descansar se os dedos sentirem os fios. é isso mesmo: eu gosto da sensação dos cabelos batendo nos dedos. o movimento tem que ser perfeito. é um vício, eu não nego. existe alguma espécie de AA?

mas resolvi parar e pensar: quando as coisas não andam pelo caminho que queria, o vício se torna mais agressivo. me dá dores no pulso de tanto repetí-lo. quisera eu conseguir parar. do nada, percebo que meu cabelo está lá, entre as mãos, minha cabeça está torta e o corpo tá doendo, mas a sensação é de calma. 

lembrei que não enrolo os cabelos quando acompanhado.
lembrei que não enrolo os cabelos quando realizado.
lembrei que não enrolo os cabelos quando muito ocupado.

deixa eu te contar: o dia foi caótico. começou muito bem, com seu cheiro, seu jeito, meigo e peculiar. com seu olhar. seu aperto. quisera eu que todos os dias começassem assim. caminhei feliz, leve, com o coração a palpitar. a tarde não foi lá essas coisas, porque eu fiquei com saudade de te abraçar. eu enrolei meu cabelo, andei pra lá e pra cá. 


me abraça, por favor, pra eu poder acalmar.

Um comentário:

Lucas Carvalho disse...

O final foi lindo! Amei. E por um acaso, tenho essa mania.