1 de dez. de 2013

saímos por ali, a rever estrelas



Era tarde. Tarde da noite. Tarde pra você e eu. Passamos anos em crise. Anos nos conhecendo e, tempos depois, percebemos que não sabíamos quem éramos. Seu rosto ainda aparece nas memórias, mas seu cheiro já é um mistério. Seus olhos – apaixonantes – já estão turvos. É tarde da noite. Foi preciso o abismo para encararmos o tão esperado final. Passamos da hora. Perdemos a mão. 

Sentados em qualquer esquina, boêmios, choramos a despedida. “Adeus”. E foi-se, como quem já não me conhecia, meio trêmulo pela recente descoberta: era o último adeus. Andamos agarrados em um ideal de vida ilusório. Deixar-te para trás é desprender mãos que já não andavam tão dadas, mas ainda eram apegadas. Seu toque. Tudo, tudo virou história.

Ouço seu passo sumir. Silêncio. O coração acalma. É hora de seguir. É tarde, tarde da noite, e eu já não tenho mais o que sentir. Falar. Grito. Ninguém quer ouvir. E, num segundo súbito, o mundo parece voltar. Carros. Cigarros. Músicas. Pessoas. O cabelo voa na frente dos olhos e, com um toque, afasto, deixando a visão do futuro nítida. Cabeça cheia. Olho para o céu.


Eu já não me lembro daquela dor. A dor do amor foi para algum lugar - e eu finalmente saí de lá. Existe um mundo, um mundo maduro e seguro pra desbravar. E na luta pela libertação, na crise, no choro e loucura, saímos por ali, a rever estrelas. 

Um comentário:

Rafa disse...

Lindamente expressivo.