1 de out. de 2010

da criação

Desde pequeno, ouvia dos meus pais e familiares a maldita expressão: não o crio pra mim, crio pro mundo. Criar alguém pro mundo é a coisa mais injusta que alguém pode fazer com você. Não que precisemos ser restritos à somente um circulo de pessoas - no caso, a família - mas o mundo é feio demais para ter alguém criado para ele. Criar alguém pro mundo é criar um monstro. Um ser sem sentimentos, sem sorrisos, egocentrico e invejoso.

Já criados, não temos muito o que fazer. É pagar uma terapia para identificar certos problemas e tentar mudar o panorama e o futuro. O destino pode estar escrito, mas, pra isso, há branquinho. A nossa maior surpresa é, acredite, a nossa cabeça. Ela é tão trapaceira que faz você acreditar em um você inexistente. Você não trai, você é fofo, você é lindo, você é certo. Tudo errado. Quando deitamos na cama e a cabeça começa a falhar, dá para perceber que, lá no fundo, você é um tonto.

Fui criado para o mundo. Isso quer dizer que eu fui criado pra mim. Fui criado pra batalhar, pra não abaixar a cabeça e pra ser influente, forte, guerreiro. Pfff... Tenho dó de quem acreditou nisso. Hoje eu ando de cabeça abaixada, com os ombros pra dentro e não consigo falar uma frase com um estranho sem gaguejar ou tropeçar. Sou um fraco, influenciável, infanto-juvenil distorcido por imagens de uma realidade que nunca vai viver. É tudo coisa da cabeça. E da TV.

Enfim... É tudo isso e mais um monte pra dizer que, infelizmente, odeio psicólogos. Hoje, eu também odeio a mim e a você. É aí que mora o segredo: você está na frase, logo, penso em você. Logo...

3 comentários:

Gabriela Andrade V disse...

Esse texto merecia ser publicado na Veja ou em alguma revista de grande circulação e com um público bem diversificado. E tenho dito...

Jhon Meyer disse...

Olha, gostei demais to texto.
Eu concordo com muito do que disse. Só que não tenho talento p/ expressar em 'literariamente' (se é que isso tá certo) como vc.
Criar alguém p/ o mundo. Nunca gostei disso, nunca me soou correto. Mas eu nunca me manifestei p/ não soar um charo, insuportável politicamente correto e pretencioso, do tipo que quer corrigir os outros. Mas, não concordava. O mundo é terrível, e eu não quero ter dentro da minha casa, mais um exemplar de homem frio, calculista, indiferente, egoísta, e por aí vai.
Eu fui criado pela minha mãe, sofri muito na vida, sou apegadíssimo a ela, isso é ruim, mas, meus valores são muito latentes, mesmo eu sendo adulto. Não quero dizer que quem teve outra criação não tenha princípios, valores.
Não odeio psicólogos, embora só tenha ido me consultar com um, uma vez. Não odeio as pessoas, acredito no ser humano, mas tenho medo das pessoas. Vai entender.
Talvez me ache meio doido. Mas me identifiquei de verdade com o texto. Abraço grande, fique com Deus.

Jhon Meyer disse...

Olha, gostei demais to texto.
Eu concordo com muito do que disse. Só que não tenho talento p/ expressar em 'literariamente' (se é que isso tá certo) como vc.
Criar alguém p/ o mundo. Nunca gostei disso, nunca me soou correto. Mas eu nunca me manifestei p/ não soar um charo, insuportável politicamente correto e pretencioso, do tipo que quer corrigir os outros. Mas, não concordava. O mundo é terrível, e eu não quero ter dentro da minha casa, mais um exemplar de homem frio, calculista, indiferente, egoísta, e por aí vai.
Eu fui criado pela minha mãe, sofri muito na vida, sou apegadíssimo a ela, isso é ruim, mas, meus valores são muito latentes, mesmo eu sendo adulto. Não quero dizer que quem teve outra criação não tenha princípios, valores.
Não odeio psicólogos, embora só tenha ido me consultar com um, uma vez. Não odeio as pessoas, acredito no ser humano, mas tenho medo das pessoas. Vai entender.
Talvez me ache meio doido. Mas me identifiquei de verdade com o texto. Abraço grande, fique com Deus.