18 de mar. de 2008

História infantil é amor na casa errada

Marionete, que bela intérprete.


Quase parando, ela é mudada por movimentos. Sua expressão é sempre a mesma, cheia de traços e rabiscos. O sorriso no rosto é infinito. Os braços chacoalham de acordo com a vontade do outro. Suas pernas não sentem o chão. Marionete não pode nem se quer amar um moleque.


Foi de casa em casa, de porta em porta, de rosto em rosto, procurando seu periguete. Descontrolada, não achou ninguém. Disseram que era fria e sem vida, um ser inexpressível. Marionete, que de boba não tem nada, seguiu os desejos de seu dono e foi-se embora, triste, com os traços paradoxais em seu rosto feito de madeira e chiclete.


Deitada em sua cama feita de sacolas de algodão, Marionete passou a noite em claro – seus olhos já não se fechavam. Borrada da água da chuva que veio do céu, seus olhos doíam com a dor do coração. Seu dono, um tal de senhor Ribeiro, deitado na cama ao lado, cheio de almofadas, dormia feito um porco, daqueles da fazenda, cheio de lama.


No outro dia, Marionete, ainda acordada, partiu para mais um dia da monótona vida. Ela, desiludida e acostumada, chorou pelos cantos a grande falta de amor. Invejou os humanos, que perambulavam de mãos dadas, no meio das ruas da cidade mostrando o quão felizes eram. Mal sabia Marionete que sua vida era invejada por todos aqueles olhares. Azuis, marrons, verdes, não importa a cor. Marionete via a todos, só que não sabia o que era viver dentro deles.


Enforcada e torturada, Marionete partiu. Virou um outro item, mais sem vida, sem maquiagem e sem chiclete. Marionete então tornou-se carro. De carro, taco. De taco, atacado. De tudo, nada.

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