4 de mai. de 2007

Do you get it now?

O melhor jeito para se começar uma história é com "Era uma vez". Aí é onde as pessoas criam os seus personagens e formam a sua brincadeira, que vira livro.

O pior jeito para se terminar uma história é "E viveram felizes para sempre". Aí é onde as pessoas te colocam em um sonho que você sabe que nunca vai querer sair. É aí que você cria o seu "era uma vez" e descobre que nada é igual à Cinderella.

Era uma vez um garoto da quarta série, que sempre viveu sozinho no quarto de um motel, com sua mãe prostituta e seu pai dependente de folhas verdes. Ele nunca teve férias e, portanto, nunca fez a sua redação de primeiro dia de aula. Seu pai o obrigava a trabalhar com os seus colegas de cara feia. Sua mãe não o deixava sozinho de noite. Na verdade, ele não sabia se aquele era seu pai e se aquela era sua mãe. Toda a verdade de sua vida, era, uma fotografia.

O garoto não brincava de esconde-esconde porque os clientes de sua mãe não gostava. O garoto não brincava de pega-pega pois o pai tinha medo da polícia na rua. O garoto não pintava as paredes pois a tinta custava caro. O garoto não andava de bicicleta porque, com aquele dinheiro, eles poderiam comer um bife no final da semana.

Ele amava as formigas do jardim do Motel. Adorava o jeito que elas se organizavam e o jeito que elas carregavam a comida. Ele adorava matar as formigas e depois dar risada do resto do grupo se perder no caminho.

Ele amava um determinado cliente de sua mãe. Ele via, por algum motivo, que ele a fazia feliz. Ele era comum. Tinha cabeça com cabelos curtos e arrepiados, era magro, rosto normal e um corpo grande. Não gordo, mas forte. Ele andava como um homem que mandava no mundo. O garoto o chamava de Deus. Deus, para ele, era um ser humano moreno de cabelos curtos e arrepiados. Esse cliente, sabia ele, não batia em sua mãe. Só conversava. Ele queria ser Deus quando crescer.

Então ele estudou, lutou, brigou, amou, viveu, correu, andou, chorou, sofreu, apanhou, se escondeu, atirou, pecou e morreu.

E sua mãe viveu feliz para sempre com Deus.

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