10 de jul. de 2019

breakthrough



comemorar os 30 anos é algo mais complexo do que parece. nossos espelhos, basicamente, são nossos pais, que, com seus 30 anos, provavelmente já eram casados, tinham filhos, bancavam uma casa e possuíam problemas que, à época, ainda crianças, não conseguíamos imaginar soluções. pois é complicado saber que a vida não nos preparou direito para os 30 de um mundo tomado por millenials e exposição social. tudo é diferente e efêmero - e líquido. relações que duram um piscar, trabalhos que são cada vez mais rápidos, pessoas que são cada vez mais substituíveis, o sonho do "larguei tudo e viajei o mundo" dominando o facebook, a vida exposta aos olhos dos outros para a criação de qualquer preconceito irrelevante. a gente demorou mais para amadurecer e, a famigerada crise dos 30, chega exatamente por isso: nossa vida tem um ciclo, e esse ciclo é inevitável. se não evoluímos durante o caminho, os 30 nos transformam bruscamente e de forma obrigatória. a gente sente a infância saindo do corpo e as preocupações, que antes poderiam ser pífias e arrogantes, se tornam sérias. são contas para pagar, trabalho pra manter, amizades para batalhar, amores para entender, além de toda uma piração de realmente entender qual a nossa importância para o universo e como podemos, de alguma forma, exalar bondade em um mundo tão consumido e que força a gente para a maldade. é quase cósmico: o universo devolve aquilo que a gente dá. e ponto final.

depois dos 30, também, a gente percebe que não adianta muito vestir mais máscaras e que a honestidade é o melhor dos valores que a gente vai ter. também entende que a bebida e a balada é uma fuga de uma realidade que a gente não gostaria de viver, mas caímos nela. a gente vai aprendendo a dizer mais "não" e também mais "sim". a gente começa a se permitir. a ter manias piores e gostos melhores. a se preocupar com o coletivo, e não mais com o individual. a gente começa a se importar. nos 30 a gente cresce. e aí, também, a gente começa a sonhar menos para colocar mais o pé no chão. é porque, sei lá, depois dos 30 a gente percebe que metade da vida já se foi - e o que sobra dela? aí é quando a gente aprende a brincar de dominar o destino pra não deixar mais a vida a seu mercê, mas sim para que a gente consiga controlar os próximos passos dele.

eu já questionei bastante os 30 - e todas as crises que vivi por querer ultrapassar a idade quase que cegamente. foi, então, sem querer, deitado em um abraço quente e com um cachorro do lado, que percebi que as coisas estavam complicadas demais e era eu, e somente eu, que conseguiria descomplicar. num ato sóbrio de realidade, comecei a identificar as palavras que regiam a minha vida e as minhas vontades de atualmente. e elas vieram voando, criando um top 10 invencível de harmonia:

aconchego
amor
família
paz
liberdade
música
trabalho
viagem
paz
casamento

lembrando que, como aprendemos lá atrás na soma, a ordem dos fatores não altera o produto. foi difícil (e precisou de muita terapia) chegar até esse momento de vida. foram muitos seriados, muita música, muito amigo, muito flerte, muita decepção, muita rejeição, muito amor, muito prazer, muita loucura, muita ansiedade, muito livro, muito controle, muito abraço, muito choro, muita tristeza, muita felicidde, muita viagem, muito medo, muita foto no instagram, muita prisão, muito coração estraçalhado, muito sorriso na cara, muita noite sem dormir, muito dia dormindo, muito carinho nas costas, muito amor dado, pouco amor recebido, muito tapa na cara, muito sentimento perdido.

precisei de quase 32 anos para entender que o problema não era se dar, mas sim das pessoas não estarem prontas para receber.
precisei de quase 32 anos para entender que nem todo mundo é que nem a gente, nem teve a mesma educação e mesma base, e por isso temos reaçãos diversas e inesperadas.
precisei de 32 anos para aceitar que tudo bem alguém ter planos diferentes dos meus.
precisei de 32 anos para aprender a virar uma página de forma rápida.
precisei de 32 anos para aceitar que, como diz uma cantora aí que eu gosto muito, "você me quer com todas as vírgulas, eu te quero como ponto final".

em tempo, este é o último post deste blog, que existe desde janeiro de 2007. um obrigado, da parte mais incrível que existe dentro de mim, para todo mundo que, de alguma forma, participou deste que, por muito tempo, foi o meu canto preferido de estar. aqui eu compartilhei minhas maiores angústias e, de alguma forma, vocês estiveram em momentos únicos meus. é uma alegria imensa cada vez que eu recebo um comentário falando destes posts, porque eles são o que há de mais verdade em mim. a história, agora, continua - mas resolvi escrevê-la em lugar mais íntimo e meu.

beijos!




21 de jun. de 2019

cuide de quem te quer, e cuide de você.



a vida é um leva e trás de sensações, emoções, pessoas e momentos. têm instantes que você guarda para a sua eternidade, e momentos que não duram uma fração de segundo. têm verdades que viram mentiras e pessoas que viram passado. é tudo sobre aprender: o que vale a pena, o que te faz bem, o que não te culpa, o que te enlouquece - de forma boa - e o que te enfurece. é tudo sobre aprender a sentir o corpo arrepiar só porque alguém novo chegou perto de você, e saber que você vai, provavelmente, se machucar. é sobre calejar; cair tantas vezes que, então, o levantar é feito com maestria. é, no entanto, reger. coordenar os passos para que eles sejam categóricos. mas, ao mesmo tempo, deixar-se perder. abrir a mente para se dispôr a novas oportunidades, sem deixar que isso mude sua essência. é perder para se encontrar, é levar para buscar, é correr para respirar. pode ser clichê e banal, mas se conhecer é o nosso maior desafio por essa passagem de existência. acredito que a gente termina a nossa vida sem nem ao menos saber ao certo quem somos de verdade, de tanta influência que sofremos dia a dia pelo exterior. mas, no percurso, a gente consegue decifrar alguns pedacinhos da gente: uma música que faz chorar, um cheiro que faz o olho virar, um carinho que faz o corpo amolecer, um momento que faz a cabeça ceder, uma pessoa que traz o aconchego. a vida é sobre aprender, o tempo todo, coisas novas. é aprender a cuidar de quem te quer, e cuidar de você.

21 de mai. de 2019

a gente pode




a gente pode viajar o mundo juntos
comprar todos os doces 
relaxar em uma praia vazia
ou curtir o pôr-do-sol no campo
a gente pode curtir a paixão
entender o coração
fazer poesia e canção
e explodir de emoção
a gente pode se conhecer melhor
se descobrir melhor
se abraçar melhor
se deitar melhor
a gente pode dominar o mundo
aumentar o som no refrão da música
abrir os braços para sentir o vento
ou arrumar o cabelo quando ele esvoaçar
a gente pode correr pelado
ou curtir a chuva gelada
até subir numa montanha íngreme
ou descer uma cachoeira que amedronta
a gente pode brigar
a gente pode se amar
a gente pode xingar
a gente pode berrar
a gente pode ouvir o seu duo preferido
ou a minha cantora predileta
ou até aquele músico que ambos gostam
e cantar juntos enquanto rimos de vergonha
a gente pode escrever cartas de amor
de surpresa ou no aniversário
e planejar a próxima aventura
sempre juntos
a gente pode ver a neve
ver o sol por todos os dias
e até o céu estrelado de dentro de uma banheira
enquanto o outro dorme em silêncio
a gente pode ter paz
a gente pode ter caos
a gente pode ter entropia
a gente pode ter razão
a gente pode ter as melhores fotos
os melhores refrões
escrever o melhor livro
com o final que a gente escolher
a gente pode reservar um hotel de camas brancas
ou um de frente para o mar
um do jeito que a gente gosta
com o rio e a torre à vista
que aconchegam.

a gente podia tudo.
mas a gente preferiu o nada.

13 de mai. de 2019

estraçalhar.



coloco os fones, a música começa a tocar. é aquela música que me faz pensar. baby, don´t crush me.
chegou a hora. é hora de largar os vícios antigos. momento de trilhar novos caminhos.
esquecer tudo o que foi, tudo o que marcou. esquecer o brilho nos olhares para, assim, enxergar com plenitude novamente.

é hora de viajar. a música continua soando. i´ve been down this road before.
"meu coração é estraçalhado", você me disse ao pé do ouvido há muito tempo. e ele mudou?
eu sou louco, eu sou cego, eu sou surdo, eu sou teimoso. mas eu sou único. e sei disso. e sei que você gosta da minha loucura, mesmo dizendo que não.

você gosta da minha leveza, mesmo tentando pesar. você é adulto, eu sou pequeno.
mas é um dom. um dom de cada um. o de afastar. o de empurrar. o de trazer no íntimo resquícios de relações mal resolvidas.

o de não deixar-se gostar.

mas por quê? por que se a gente brilha? se agente ilumina? se a gente se dá bem? você está (e esteve) em todos os lugares, o tempo todo.

você sumiu porque precisou. precisávamos.
mas a sua pele (seca!) sempre volta. e o carinho nas costas sempre me arrepia.
e, sim, me desculpe por ser louco e aparecer na sua porta às 3h da madrugada de um domingo pedindo colo. se você é carente, eu sou o dobro. é isso que nos completa. que nos torna invencíveis.

é hora de largar os vícios. é hora de conhecer quem somos. e assumir pro mundo a que viemos.

lolita, você disse em minha aparição pública da sua vida. já tivemos playlists, já jogamos truco na madrugada, já corremos na chuva, já voamos cantos do mundo, já dançamos em todas as festas, já ficamos loucos até cair, já dormimos no chão. na sacada. na escada. na sala. já conhecemos pessoas. já afastamos pessoas. já vimos uma carolina cair. pof!

damn, I wish you were here.
e, insisto na pergunta que não me canso de te fazer: posso me apaixonar por você?

8 de abr. de 2019

Hello, stranger.



Desconhecido. Somos programados para temê-lo. O homem não consegue justificar o desconhecido, então inventa teorias para compensar. Tudo o que o homem não sabe, existe uma teoria por trás que garante estabilidade. É assim desde o começo dos tempos, é assim até hoje com a vida e com a morte, é assim com a igreja, é assim com a paixão, é assim com o amor. O homem é fraco, mas quer se transparecer forte. E é por isso que o homem é vago, se faz vazio, se completa com o abraço, teme o estranho, enfraquece com o beijo, se deleita com o prazer, enlouquece na luxúria, perde a razão nos sentimentos.

Conhecer o outro pede calma. Pede força.
É preciso ter paciência.
E também um pouco de disciplina.
O outro é estranho.
O desconhecido gera medo.
Faz-se intenso.
O coração acelera. O pulso aperta. A respiração ofega.
Quando você menos espera...
O outro completa.
Anseia-se um beijo ao final do dia.
Sorri com um carinho leve nas costas, feito com perfeição.
O toque vai se encaixando, até que as mãos se entrelaçam pra serem uma só.
A vontade do outro ensurdece, deixa cego.
O carro vai na madrugada a caminho do encontro.
Nada se sabe sobre isso. Sobre ele. Sobre o futuro.
Nada se sabe sobre confiar. Sobre amar.
Hello, stranger.

O ser humano é complexo. Cada um de nós somos criados de formas únicas. Sofremos influências externas que, mesmo se criados na mesma família, debaixo do mesmo teto, nos transformam em seres divergentes. Seres especiais. Cada qual tem sua qualidade, e também o seu defeito. Tudo é uma balança, e tudo se equilibra. A gente é feito assim, se transforma assim, se diverte assim. Descobrir o ser humano é uma das maiores aventuras que a vida pode nos proporcionar. Descobrir pequenices, descobrir manias, descobrir vontades, descobrir os opostos é algo sensacional. Impagável.

Sou do time que gosta de descobrir - e que demora a ser descoberto. No fundo, sou uma caixinha de surpresa, com meu humor latente e minha preguiça envolvente. Gosto de descobrir o sorriso ao final de uma surpresa. Gosto de receber o abraço após um presente. Gosto de levar estranhos para conhecer o desconhecido. Gosto de planejar as viagens, só para satisfazer quem está comigo. Gosto de ser genuíno o tempo inteiro, por mais que tudo isso me exponha ao limite do pensamento. Gosto de dar as mãos, de abraçar (mas não muito - meu espaço é único), gosto de dizer eu te amo. De mandar flores e chocolates. Gosto de descobrir o que completa o outro pra, assim, me sentir completo também.

É tempo de deixar-se descobrir. De permitir o impossível. De abraçar um caminho. E deitar em um peito que dá aconchego. Mudanças de rotas são bem-vindas. Curvas bruscas são esperadas. Lombadas abaixam a velocidade. Mas, ah, estranho: a vida preparou um belo mapa para nossas mãos e bocas.

2 de abr. de 2019

Problema.



Eu tenho problema com fios de fones de ouvido. Tenho problema com música que não acaba, com filme que não tem fim. Tenho problema com histórias mal contadas. Tenho problema com confiança, tenho problema na cabeça. Tenho problema com seu beijo, problema com seu olho me pegando de soslaio. Tenho problema com um riso torto e fofo, problema com risadas que são exageradas. Tenho problema com complicações. Tenho problema em controlar minhas emoções, problema em dominar meu coração, problema em dizer não. Tenho problema com a rejeição. Tenho problema com a atenção, problema com a bagunça, problema com camas que não são brancas. Tenho problema com vazios, com barulhos repetidos pela manhã, problema em sair da cama com bom-humor. Tenho problema com a indiferença. Problema com a paixão. Problema com o toque. Problema com cheiros que me deixam cegos (hã?). Problema com o tesão. Problema com seu oi. Problema com o seu tchau. Problema em me perder. Tenho problema em te perder. Problema com cabelo ralo. Problema com pele gostosa. Problema com gente escandalosa. Tenho problema com sonhos. Problema com sono. Tive problema na escola, na adolescência. Não tenho problema em te ver. Em te querer. Em me enlouquecer.

O problema sou eu, não você.

1 de abr. de 2019

O tempo.



Tempo. Tempo. Tempo. Sacana esse bicho, não é? Alguns falam que só o tempo cura. Outros, que a gente tem que correr contra o tempo. Tempo. Sacana. Não entendo quem quer dar tempo ao tempo. Já não temos muito tempo, então, por quê deixá-lo ir? Mas o tempo ensina. No fim, ele é bonito. Não adianta enganá-lo. Apesar de não voltarmos no tempo, ele evolui pra nos mostrar.

Passei, nos últimos meses, por momentos intensos criados pelo tempo. É o fim de uma relação de forma repentina que me fez repensar em como eu me habituei a ser dominado pelas emoções. Como eu percebi que nem tudo valia a pena e como eu enxerguei um pedaço de mim que viveu 31 anos escondido, e como eu fui obrigado a me dar valor. O tempo ensinou que a gente não precisa aceitar algumas situações que não estamos de acordo só por causa do amor. Aliás, o que é o amor, no fim das contas? Não desmereço o sentimento, mas hoje sinto que ele é só uma forma de nos vendarmos do mundo para achar no outro pedaços que nos completam. Eu, que sempre lutei pelo amor do aconchego, hoje busco lençóis brancos macios para abraçar e sentir o toque sedoso. Dá conforto, dá segurança, dá paz.

Resolvi, também, ter uma vida adulta. Mudar de casa, de ares (insiro aqui a imensa e latente vontade de fugir para Buenos Aires). Aqui, o tempo foi contra, e lutei para que ele não colocasse uma lombada em meu caminho. Tive que segurar a cabeça firme em momentos que achei que não daria conta, mas, com um empurrão de lá e cá, seguimos fortes. E aí vem uma nova rotina. Uma nova semana. Um novo aprendizado. Com o tempo, fui descobrindo pequenices peculiares que fazem a vida mais calma e leve. Morar sozinho é quase que uma reinvenção. É descobrir pequenos prazeres que viviam dentro da gente, como sentar no chão da sala de cueca e abrir um vinho, só porque eu quero. Ou comer um macarrão feito às pressas e de surpresa, só porque alguém quis. E rir porque virei o louco dos porta-copos - e será que eu desliguei o ar? São novas, pequenas, gostosas preocupações.

Dizem que a culpa é de Saturno. Anunciaram o seu retorno pra mim aos 27: "aguenta até os 30, vai mudar tudo". Chegaram os 30, tudo se manteve igual. Mas foi nos 31, um pouco atrasado (que nem eu), que ele veio e fez a limpa.

Na terapia, ouvi que algumas atitudes minhas são de um garoto de 5 anos. Descobri que, de fato, arrumar a cama de manhã nos faz amadurecer, assim como lavar a louça depois de comer. Aprendi a dar valor à pequenas ações feitas pela minha mãe, como passar o pano no chão (e ficar com dor nas costas por 3 dias seguidos). O tempo ensina. O tempo mostra. O tempo cobra. Mas, se a gente deixa que o tempo nos domine, ele não nos tira do lugar. Por isso, é bom controlar o tempo. O nosso tempo. E vivê-lo de forma que a gente se sinta pronto para encará-lo.

Difícil deve ser a vida daqueles que param no tempo. Que não lutam pelo seu tempo. E que se conformam com o tempo.

15 de fev. de 2018

shit!



Vish, faz um tempo. Mais de ano que eu não escrevo. Nesse período, tanto aconteceu que, se eu tentasse recuperar, não ia dar; primeiro porque a minha cabeça já não é mais a mesma e me desespera os lapsos da memória; segundo porque, bem, ninguém ia ler. Faz tanto tempo que eu até esquecia a senha (e isso só é bom em período pós-férias, ao voltar para o trabalho. É quando você tem certeza que se desligou por um tempo). Nesse longo hiatus, surgiram alguns novos cabelos brancos, as costas começaram a pedir arrego e até a ressaca se tornou quase mortal. Ah, a ressaca. Hoje ela é tanto moral, quanto física. Os 30 finalmente chegaram e me alguns colegas me disseram que Saturno já deveria ter completado o seu retorno. Tá atrasado, talvez. As preocupações dão lugar para o trabalho, as contas, o futuro. As relações. Os amigos. Tudo muda, mesmo parecendo que estamos na mesma rotina. 

Dia desses entendi que eu estava pensando muito no espaço. É, a culpa é do Musk. Queria muito que o Tesla continuasse conectado conosco, para ver onde isso ia dar. Além da minha fixação por Saturno, o espaço e as tecnologias sempre me encantaram. Desde quando descobri o que era um átomo. Pra completar, acabei lendo um livro que tentava evidenciar as teorias de Darwin, da evolução e do nosso futuro. Da nossa espécie. Cabum! É engraçado como a gente cria teorias e superstições para coisas que não entendemos. E como a gente se baseia no mais concreto, por mais abstrato que seja, para justificar ações e comportamentos. E bem aí eu penso que vai ser legal pra caramba para quem viver nos anos 2.500. 

Voltando aos 30 e à ressaca. Sempre ouvi a galera criticando a famosa crise dessa idade. Eu, ingênuo, entendia que estava tudo bem e que, talvez, eu fosse um ser evoluído e estava chegando a ela tranquilo, sem muitas nóias. Mas o cérebro vira uma chave e, no dia seguinte ao 25 de novembro de 2017, o mundo desmoronou: eu soube na hora que era ela, a tal crise, batendo à porta. Melhor: já estava com os pés no carpete. Dizem que é aí que a vida realmente começa: que temos nossa personalidade definida, nossas decisões acertadas, carreira estabelecida... Pois então fodeu. Não sei se são as imposições da sociedade ou se são paranoias pessoais, mas o barco tá ali, navegando sem rumo. E parece que a gente não tem uma bússula sequer pra nos guiar. Aos 30, tudo gera algum impacto. O comercial emocionante do Itaú me faz lembrar que eu não entendo nada de finanças e "não sei guardar dinheiro". O carnaval me faz lembrar que eu já estou um tanto velho e que não sou mais tão desejado quanto fui um dia. A margarina não digere bem. O chocolate vai direto para os pneus. As músicas com letras superficiais já não fazem sentido, mas se alguma fala de amor, aí, sim, você diz: essa é minha música! Até o filme com a Larissa Manoela bate diferente: você pensa em tudo o que sua mãe te fez e você, sem querer, não soube reconhecer. E dá vontade de voar pra casa e abraçar e deitar no colo da mãe, mas você já é orgulhoso demais pra isso. Aos 30, a vida vira quase uma poesia, mas parece que nada rima. A entrada no portal das balzaquianas é rápida e dilacerante. E provavelmente vai deixar marcas para todo o resto dos dias. 

Mas, ao que parece, há explicação. Entendi que, aos 30, a gente finalmente se individualiza. Se dá o valor. Se entende e se desmistifica. Se desdobra pra fazer o bem (antes pra gente, depois pro restante). Outro dia li uma discussão que pontua que a adolescência acaba aos 25. Não sei como chamar, então, esses 5 anos de limbo até os 30. Porque, sim, finalmente, eu sinto que virei um adulto. Em um amplo sentido de responsabilidades, de cobranças, de certezas. Mas, principalmente, numa discussão única: como nunca, eu tenho certeza do que sou e do que me tornei. Fica mais fácil exigir o respeito. Impôr a vontade. E, a partir de agora, consigo, talvez, estruturar um caminho sólido pra quem eu quero ser, hmm... Aos 40? 

Sobre a ressaca... Bom, tudo o que posso dizer é: aproveite os 20 e poucos. Você vai começar a pensar duas vezes antes de sair de casa para uma noite de bebedeira quando a casa decimal virar de verdade. 

21 de set. de 2016

some life goals



Eu não tenho como negar que, a cada dia que passa, me surge uma vontade nova. Há dias em que vou dormir pensando em concretizar uma viagem que me parecia distante. Ao acordar, eu repenso e percebo que é melhor eu visitar aquele lugar que já me sinto de casa. Também têm dias que acordo e decido mudar a minha forma de se posicionar perante a vida. E tem dias que eu penso ‘tanto faz’. E, devo dizer, eu estou longe de ser alguém do tipo ‘tanto faz’.

Desde pequeno eu premeditava mudanças. Me lembro até hoje quando me forcei, na sexta ou sétima série, a mudar a caligrafia, simplesmente porque achava que era para melhorar a disposição no caderno. Algumas horas depois, eu já me encontrava em dúvida se aquela decisão foi a mais assertiva. Então eu começava os testes: durante alguma aula não muito interessante, eu escrevia frases distintas, do tipo ‘Meu nome é Caio Henrique Caprioli e eu quero mudar de letra’ de todas as formas que eu podia imaginar. Até me decidir com qual seguir. Alguns falavam que era DDA, outros que era resultado de algum transtorno de bipolaridade e, recentemente, a psiquiatra falou que pode ser um pouco de depressão. Não sei, até hoje, ao certo o motivo, mas eu sempre fui um entusiasta das mudanças, por mais cabreiras e obscuras que elas poderiam ser. Eu defendo a teoria dos 21 dias – que você precisa fazer algo por esse tempo para que isso vire rotina, algo normal. Talvez a maioria das minhas mudanças tenham durado menos, no entanto, dado que a minha letra continua a mesma. 

Uma antiga colega de trabalho minha, com muito mais experiência de vida do que eu, um dia, quando eu tinha lá os meus 19 anos, me disse ‘faça tudo o que você puder fazer de errado até os 30, porque, depois disso, você precisa arrumar a sua vida’. São aquelas frases que deveriam entrar e sair com o ar da respiração, mas que por algum motivo se prenderam nas entranhas da vida e reservaram um espaço na memória falha. Faz quase 10 anos que eu ouvi essa frase e, à época, eu acabei registrando alguns ‘life goals’ na minha história (como por exemplo viajar ao máximo, quantas mais vezes fosse possível, até os 30, porque aí chegaria a hora de morar sozinho). Ameacei uma mudança de vida aos 26 e logo brequei; não era hora. Hoje eu posso falar que não tenho dinheiro algum guardado, mas que viajei à beça. Puxa vida. E essas viagens renderam memórias inenarráveis. 

Mas ano passado, no dia 25/11, eu fiz 28. E, pela primeira vez, lembrei que os 30 se aproximam, mais do que nunca. E com o passar desse tão forte inimigo de todos – o tempo – a gente adquiri tanta experiência que a gente começa a enxergar a vida por outros cantos. É estranho como 1 ano parece agora 1 mês, e como a gente ganha pressa em fazer as coisas acontecerem. É estranho, também, perceber que alguns amigos ficaram pra trás porque você parou de concordar com tudo o que eles queriam. E por mais que a vida seja sacana e que o tempo nos tire os cabelos, a gente vai se sentindo cada vez mais completo por dentro – apesar da facilidade de perder o rumo do trajeto. 

Eu adoro os textos de “Larguei tudo para viver a vida que sempre sonhei”. Acho que eles dão um empurrão em quem se sente infeliz por alguma não realização. Mas muito preocupa, em um mundo com tanta informação mal interpretada, o que isso tudo pode causar. A minha geração, não podemos negar, é uma das que mais se discutem até hoje. “Comportamento da geração Y”, “Geração Y infeliz”, é muito do que a gente lê. E a gente se identifica, sem nem entender o porquê. É arriscado largar tudo pela utopia de um texto, mas é gostoso acreditar que vai dar certo. Também adoro os textos do Gregório Duvivier. E do Mário Prata. E também já adorei a Marilena Chauí, até ela dizer que o Moro foi treinado pelo FBI. São textos, que servem pra gente refletir, não viver ao pé da letra. 

Talvez seja o nosso problema, o viver ao pé da letra. “Tem que se amar mais, Caio”, me disse um amigo no sábado. Taí um conselho que valeu a pena. 

some life goals



Eu não tenho como negar que, a cada dia que passa, me surge uma vontade nova. Há dias em que vou dormir pensando em concretizar uma viagem que parecia distante. Ao acordar, eu repenso e percebo que é melhor eu visitar aquele lugar que eu já me sinto de casa. Também tem dias que acordo e decido mudar a minha forma de se posicionar perante a vida. E tem dias que eu penso ‘tanto faz’. E, devo dizer, eu estou longe de ser alguém do tipo ‘tanto faz’.

Desde pequeno eu premeditava mudanças. Me lembro até hoje quando me forcei, na sexta ou sétima série, a mudar a caligrafia, simplesmente porque achava que era melhor a disposição no caderno. Algumas horas depois, eu já me encontrava em dúvida se aquela decisão foi a mais assertiva. Então eu começava os testes: durante alguma aula não muito interessante, eu escrevia frases distintas, do tipo ‘Meu nome é Caio Henrique Caprioli e eu quero mudar de letra’ de todas as formas que eu podia imaginar. Até me decidir com qual seguir. Alguns falavam que era DDA, outros que é resultado de algum transtorno de bipolaridade e, recentemente, a psiquiatra falou que pode ser um pouco de depressão. Não sei, até hoje, ao certo o motivo, mas eu sempre fui um entusiasta das mudanças, por mais cabreiras e obscuras que elas poderiam ser. Eu defendo a teoria dos 21 dias – que você precisa fazer algo por esse tempo para que isso vire rotina, algo normal. Talvez a maioria das minhas mudanças tenham durado menos, no entanto, dado que a minha letra continua a mesma. 

Uma antiga colega de trabalho minha, com muito mais experiência de vida do que eu, um dia, quando eu tinha lá os meus 19 anos, me disse ‘faça tudo o que você puder fazer de errado até os 30, porque, depois disso, você precisa arrumar a sua vida’. São aquelas frases que deveriam entrar e sair com o ar da respiração, mas que por algum motivo se prenderam nas entranhas da vida e reservaram um espaço na memória falha. Faz quase 10 anos que eu ouvi essa frase e, à época, eu acabei registrando alguns ‘life goals’ na minha história (como por exemplo viajar ao máximo, quantas mais vezes fosse possível, até os 30, porque aí chegaria a hora de morar sozinho). Ameacei uma mudança de vida aos 26 e logo brequei; não era hora. Hoje eu posso falar que não tenho dinheiro algum guardado, mas que viajei à beça. Puxa vida. E essas viagens renderam memórias inenarráveis. 

Mas ano passado, no dia 25/11, eu fiz 28. E, pela primeira vez, lembrei que os 30 se aproxima, mais do que nunca. E com o passar desse tão forte inimigo de todos – o tempo – a gente adquiri tanta experiência que a gente começa a enxergar a vida por outros cantos. É estranho como 1 ano parece agora 1 mês, e como a gente ganha pressa em fazer as coisas acontecerem. É estranho, também, perceber que alguns amigos ficaram pra trás porque você parou de concordar com tudo o que eles queriam. E por mais que a vida seja sacana e que o tempo nos tire os cabelos, a gente vai se sentindo cada vez mais completo por dentro – apesar da facilidade de perder o rumo do trajeto. 

Eu adoro os textos de “Larguei tudo para viver a vida que sempre sonhei”. Acho que eles dão um empurrão em quem se sente infeliz por alguma não realização. Mas muito preocupa, em um mundo com tanta informação mal interpretada, o que isso tudo pode causar. A minha geração, não podemos negar, é uma das que mais se discutem até hoje. “Comportamento da geração Y”, “Geração Y infeliz”, é muito do que a gente lê. E a gente se identifica, sem nem entender o porquê. É arriscado largar tudo pela utopia de um texto, mas é gostoso acreditar que vai dar certo. Também adoro os textos do Gregório Duvivier. E do Mário Prata. E também já adorei a Marilena Chauí, até ela dizer que o Moro foi treinado pelo FBI. São textos, que servem pra gente refletir, não viver ao pé da letra. 


Talvez seja o nosso problema, o viver ao pé da letra. “Tem que se amar mais, Caio”, me disse um amigo no sábado. Taí um conselho valeu a pena.